O Medium não é uma ferramenta de publicação

Hermano Freitas
5 min readMay 29, 2015

Por Ev Williams

Doze anos atrás eu dirigia o Blogger no Google e víamos, frustrados, os usuários migrando para nossos concorrentes como Movable Type e Six Apart. Um fenômeno comum na época, as pessoas começavam seus blogs no Blogger — porque era de graça, popular e fácil de configurar — e depois “evoluíam” para ferramentas mais poderosas.

Movable Type, Greymatter, e, mais tarde, o Wordpress, tinham uma barreira muito maior à entrada (antes o WP tinha “turnkey hosting”). Mas, assim que alguém descobria as delícias de compartilhar seus pensamentos na Internet, dispunha-se a investir o esforço por causa dos recursos adicionais e da flexibilidade de um software que permitia se instalar no próprio servidor.

Encarar o Blogger como nós naquela época — como uma ferramenta de software para criar web sites e publicar neles — implicou em competir na seara que muitos desenvolvedores de software conhecem bem: acrescentar recursos, ter mais usuários. Ver o concorrente oferecer mais recursos, perder usuários. (O marketing e outros fatores têm algum efeito, dependendo do mercado. No blogging, isto era mínimo.)

Este jogo foi particularmente difícil para nós, uma vez que o Blogger era um software hospedado (quer dizer, na nuvem), diferente da maioria das ferramentas com as quais tínhamos de competir. O desafio operacional e de engenharia era que nós tínhamos de construir recursos que eram impostos para todos os usuários. E quando nós queríamos mudar alguma coisa, todos os usuários precisavam aceitar a mudança

Naquela época, os sistemas de escala centralizados eram um problema não tão bem resolvido (mesmo com números muito menores). Mais importante, apesar de ser mais fácil por causa desta configuração, não estávamos criando efeitos de rede. Embora (acredito) nós tivéssemos mais pessoas publicando com o Blogger do que qualquer outro, isto não fazia o Blogger melhor. Na verdade, piorava, por era mais demorado e difícil acrescentar recursos.

Hoje, todos nós compreendemos que o negócio da Internet não é software. Nós brigamos para construir redes e plataformas. Nós competimos pela melhor experiência do usuário (e marketing, em alguma medida). Os recursos e a flexibilidade estão bem abaixo na lista de táticas de competição, pelo menos quando se trata de software para o usuário (ou melhor, serviços).

Minha próxima ferramenta de “blogging” teve bem menos possibilidades — e muito mais usuários. Ninguém sai de onde está tuitando porque alguma outra ferramenta tem um formato ou uma customização melhor do perfil. Isto porque é um percentual pequeno do valor do Twitter que advém do software em si. É a rede o mais importante — a conexão com outros usuários e o conteúdo que eles criam.

Chris Dixon fez um excelente post um tempo atrás — Venha pela ferramenta, permaneça pela rede — descrevendo como, diferente do Twitter, algumas plataformas começaram com valor mais ligado à ferramenta e isto mudou para valor de rede (o que, em última instância, se tornou uma parte muito maior da equação, como é o caso do Instagram). Nós tivemos uma compreensão disso e estávamos apenas iniciando na parte da rede do Blogger quando eu saí, mais ou menos 10 anos atrás. Não que o Blogger tenha afundado imediatamente. A facilidade de usar continuou a atrair usuários às dezenas de milhões por muitos anos. (Segundo a Compete, blogspot.com teve 63 milhões de visitantes apenas em março.) Mas foi uma oportunidade bem considerável que o Google perdeu. (Mas não se preocupem, eles se deram muito bem.)

Mais importantemente, foi uma oportunidade perdida para ideias e pessoas. Redes bem concebidas diminuem os atritos e ajudam que coisas boas surjam. As conexões permitem que o todo seja muito mais interessante que a soma das partes e permite que as partes descubram e construam significado.

Não será surpresa para você que estas observações revelam muito sobre o que nós estamos tentando com o Medium. Nós iniciamos construindo uma excelente ferramenta para escrever. E não é nem mesmo o editor em si que cria o maior valor. É o fato de que você pode facilmente escrever e partilhar seu texto sem a configuração, cabeçalho ou o nível de preocupação de criar um blog. É evidente que há um número muito maior de pessoas que ocasionalmente tem pontos de vista para escrever e mostrar do que pessoas que querem ser “blogueiros”. Estas pessoas vão adorar escrever no Medium, mesmo que seja apenas uma ferramenta para criar uma página legal para depois postar no Twitter.

No entanto, este não é o sentido. Ou, pelo menos, não é a finalidade. Nos últimos meses, nós transferimos mais a nossa atenção em relação ao produto de criar um valor para a ferramenta para criar um valor para a rede. E o que isso quer dizer? Obviamente, uma forma deste valor é a distribuição. E não há dúvida que algo publicado no Medium tem maior probabilidade de ter audiência do que a mesma coisa publicada em uma ilha deserta sem visitas perdida na web.

Mas a parte mais interessante do valor de rede que nós estamos começando a ver mais é o feedback qualitativo. Os highlights são o meu exemplo preferido disso:

E isto não vem apenas em benefício de quem escreve. Quando eu estou lendo algo e vejo um highlight de alguém que eu sigo, isto imediatamente torna o trecho e, na verdade, a todo o texto, mais importante e mais memorável:

As respostas são outra coisa muito importante que aumenta muito o poder da plataforma aberta do Medium e junto o crescimento da sua rede.

Quando você lê uma um texto inteligente sobre micropagamentos isto questiona a abordagem de uma empresa e então um dos fundadores desta empresa responde com um inteligente contraponto, isto é muito legal. Este tipo de coisa é possível — e acontece — tradicionalmente nos comentários dos blogs, mas a capacidade de respostas em tempo real no próprio Medium dá mais motivação para investir nas histórias (como criador) e maior probabilidade que as mais significantes sejam encontradas. (Para quem é da old school: sim, como Trackbacks.)

A seguir uma informação interessante de um comentarista “inicialmente cético” sobre respostas que não ocorriam antes: “acredito que ter que encontrar a barra necessária para apertar publicar em um texto ajudou que os comentários fossem mais gentis com as pessoas que escreveram o artigo original.”

Nós não terminamos de entender todas as coisas. (As conversas, por exemplo, são um pouco difíceis de acompanhar.) Mas todos os dias nós verificamos que há crescimento desta atividade e bons exemplos do poder da rede do Medium sendo percebido.

É por isso que eu digo que o Medium não é uma ferramenta de publicação. É uma rede. É uma rede de ideias que se constroem umas a partir das outras. E pessoas. E GIFs (sim, nós temos GIFs, também — apesar de não ser nossa especialidade, que fique claro).

Nos diga o que você pensa escrevendo uma resposta (curta ou longa) abaixo e/ou destacando seus trechos preferidos acima.

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